quarta-feira, 19 de março de 2008

DIA DO PAI - 19 de Março


MIGUEL ANXO FERNÁN-VELLO MARÇO


Março ameno, o voo prateado da sombra.

Emanação astral

brilhando detrás da sede,

detrás dos olhos

que noutros olhos

entram,no íntimo assombro,

na queimadura de água

que bebe o céu.


Março ameno, fulgor verde,

lábio de fonte arvorecida

pela força do ar.

Como um rio de espelhos

irrompe o fluxo do dia,

a raiz oculta do tempo.


Março, sabor a seiva,

deleite de estrela fria!

Nos lugarejos do norte,

de sal é o vento e de argila.

Aí a primeira fulguração

culpa o alvorecido pão,

o corpo arvorescente,

essa fragrância nova no sangue

com que o sol macera o fruto

e estremece o coração.


Março apertado e viril,

atravessado pela altura do eco e da chuva,

um mar rasando os campos:

lâmina coroada

de flor e névoa.


Março de alvas geadas

que precedem a luz no nó cego da água.

Entre o frio incandescente

e a seda azul do vento.


Março incendeia o gume

onde a sombra do inverno

apaga o enlevo,

pelo fulgor dos dias vencida.



Tradução - VERGÍLIO ALBERTO VIEIRA


(Galiza, 1958)(in «Poesia no Porto Santo»,PEN Clube Português, DRAC-Madeira,Funchal, 2000)

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