MIGUEL ANXO FERNÁN-VELLO MARÇO
Março ameno, o voo prateado da sombra.
Emanação astral
brilhando detrás da sede,
detrás dos olhos
que noutros olhos
entram,no íntimo assombro,
na queimadura de água
que bebe o céu.
Março ameno, fulgor verde,
lábio de fonte arvorecida
pela força do ar.
Como um rio de espelhos
irrompe o fluxo do dia,
a raiz oculta do tempo.
Março, sabor a seiva,
deleite de estrela fria!
Nos lugarejos do norte,
de sal é o vento e de argila.
Aí a primeira fulguração
culpa o alvorecido pão,
o corpo arvorescente,
essa fragrância nova no sangue
com que o sol macera o fruto
e estremece o coração.
Março apertado e viril,
atravessado pela altura do eco e da chuva,
um mar rasando os campos:
lâmina coroada
de flor e névoa.
Março de alvas geadas
que precedem a luz no nó cego da água.
Entre o frio incandescente
e a seda azul do vento.
Março incendeia o gume
onde a sombra do inverno
apaga o enlevo,
pelo fulgor dos dias vencida.
Tradução - VERGÍLIO ALBERTO VIEIRA
(Galiza, 1958)(in «Poesia no Porto Santo»,PEN Clube Português, DRAC-Madeira,Funchal, 2000)
Nenhum comentário:
Postar um comentário